PERGUNTAS 55 E 56 DO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER
Pergunta 55: O que proíbe o terceiro mandamento?
Resposta:
O terceiro mandamento proíbe toda profanação ou abuso das coisas por meio das quais Deus se faz conhecer.
Base bíblica:
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Malaquias 1:6-7
“Um filho honra a seu pai, e um servo ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está a minha honra? E, se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? — diz o Senhor dos Exércitos a vós, ó sacerdotes, que desprezais o meu nome. E dizeis: Em que temos nós desprezado o teu nome? Ofereceis sobre o meu altar pão imundo e dizeis: Em que te havemos profanado? Nisto, que pensais: A mesa do Senhor é desprezível.” -
Malaquias 3:14
“Vós dizeis: Inútil é servir a Deus; que nos aproveitou termos cuidado em guardar os seus preceitos ou em andar de luto diante do Senhor dos Exércitos?”
Comentário:
Sob a Nova Aliança, a honra devida ao nome de Deus continua sendo central, pois “Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). A profanação do nome de Deus não se limita mais ao altar do templo, mas se estende à vida da Igreja, ao uso da Palavra, aos sacramentos e à profissão de fé dos redimidos.
Thomas Boston, ao comentar o terceiro mandamento, afirmou que “tomar o nome de Deus em vão é mais que palavras vazias; é invocar a majestade do Altíssimo com lábios de mentira, enquanto o coração dança ao som do mundo”. Wilhelmus à Brakel ensinava que “a verdadeira reverência pelo nome de Deus brota de um coração regenerado, não apenas de uma liturgia correta”.
A Confissão de Fé de Westminster (XXI.1-2) nos lembra que, mesmo sob a Nova Aliança, Deus continua zeloso por sua glória: “Mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo, e está limitado à Sua própria vontade revelada”. Assim, qualquer uso indevido do nome de Deus, mesmo em contextos ditos cristãos, permanece pecado solene.
Aplicação:
A maldição pela profanação do nome de Deus recai sobre todo homem natural, pois todos pecaram (Romanos 3:23). Mas, em Cristo, temos o nome de Deus revelado com graça e verdade (João 1:14). A maldição da lei – inclusive aquela relacionada à irreverência – foi tomada por Cristo em nosso lugar: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gálatas 3:13).
Contudo, essa redenção não torna o mandamento irrelevante; antes, intensifica nossa responsabilidade. Como exorta John Flavel: “A graça que nos libertou da condenação da lei nos prende em amor e temor a obedecê-la com mais zelo e humildade.”
Pergunta 56: Qual é a premissa anexa ao terceiro mandamento?
Resposta:
A premissa anexa ao terceiro mandamento é que, embora os transgressores deste mandamento escapem do castigo dos homens, o Senhor nosso Deus não os poupará do seu justo juízo.
Base bíblica:
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Deuteronômio 28:58-59
“Se não tiveres cuidado de guardar todas as palavras desta lei, que estão escritas neste livro, para temeres este nome glorioso e terrível, o Senhor, teu Deus, então o Senhor fará espantosas as tuas pragas e as pragas da tua descendência, grandes e duradouras pragas, e enfermidades malignas e duradouras.”
Comentário:
A advertência permanece válida quanto ao caráter imutável de Deus. A ira santa de Deus contra o pecado é real. No entanto, sob a Nova Aliança, é preciso distinguir entre os que estão em Adão e os que estão em Cristo.
Aqueles fora de Cristo permanecem sob o juízo da maldição, pois “quem não crê já está condenado” (João 3:18). Mas os que estão em Cristo já não estão debaixo da ira, pois “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).
Wilhelmus à Brakel, ao comentar os juízos de Deus na Antiga Aliança, observou: “As ameaças da lei devem levar o crente à gratidão, e o ímpio ao temor; e ambas as reações são instrumentos de Deus para chamar o pecador ao arrependimento.”
John Owen escreveu: “A severidade da Lei, embora satisfeita em Cristo, permanece um espelho da santidade de Deus e da hediondez do pecado. O crente não teme a condenação, mas teme desonrar o nome de seu Redentor.”
Aplicação à Igreja hoje:
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Aos incrédulos, as maldições de Deuteronômio continuam vigentes como prefiguração do juízo eterno. Não há impunidade diante do Deus três vezes santo.
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Aos crentes, essas advertências são chamadas à vigilância e reverência: “Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação” (1 Pedro 1:17).
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O Catecismo Maior (Pergunta 113) adverte que o terceiro mandamento implica em cultivar “cuidado santo na execução de todos os deveres religiosos e uso dos meios de graça”.
Conclusão:
Tomar o nome de Deus em vão, mesmo em meio ao culto mais ortodoxo, é violação grave. A Nova Aliança não rebaixa o padrão, mas o eleva. O sangue de Cristo é suficiente para purificar até o pecador mais profano, mas também nos compele à adoração mais reverente.
Thomas Watson conclui com propriedade:
“Há dois livros diante do crente: a Escritura e sua própria consciência. O nome de Deus está em ambos. Quem teme a Deus não ousará apagá-lo nem em um, nem em outro.”